Benditos os que permitem que a arte e o belo os resgatem. A dona Nilva descia pela nossa rua catando latinhas. Parou aqui. Ficou na fachada da loja por um tempo e depois, repleta de encabulamento, perguntou-nos se podia entrar (e como não?). Os olhos dela falavam por si. Dentro de sua exuberante simplicidade varreu cada canto do nosso espaço, se esbaldava, se alimentava: “que lindo, que pintura, e essa música clássica? Que maravilha!” Dizia ela o tempo todo. Filmamos só a despedida, mas ela nos presenteou por uns 15 minutos com sua iluminada presença. Todos nós temos os nossos abismos, as nossas agonias, mas passar por esses momentos sabendo ver o belo, se permitindo vê-lo, é tornar o caminho mais leve e suave. Na entrada de nossa lojinha há uma frase do grande poeta português José Gomes Ferreira: “proibida a entrada a quem não andar espantado de existir”. Dona Nilva, nunca mais pergunte se pode entrar, por favor (no vídeo ela usa a máscara de forma inapropriada, na saída a orientamos sobre a forma correta de se proteger).
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