quinta-feira, 9 de julho de 2020

Tradução de "Amor Fati" de Antonia Pozzi


Amor Fati

Quando da minha escuridão transbordar
barulhenta
uma cachoeira
de sangue -
navegarei com uma vela vermelha
entre silêncios horríveis
rumo as crateras
da luz prometida.

13 de Maio de 1937

Antonia Pozzi (1912-1938), poeta italiana.

A obra de arte é uma criação exuberante do artista londrino William Turner (1775-1851), de 1796, intitulada “Fishermen at Sea”, localizada na Tate Britain - London.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Palavras e Sangue do Italiano Giovanni Papini (1881-1956)


Há grandes prazeres no contexto da vida e pra mim, um deles, é descobrir um antigo escritor. Neste final de semana caiu-me sobre o colo um Giovanni Papini (1881-1956), só havia ouvido falar do fiorentino, nunca o tinha lido. Então agora a noite resolvi pegar o livro de bolso, todo esfarrapado, com páginas amareladas, daqueles que não exigem grandes zelos e tão pouco geram alguma expectativa. Mas o título é forte: “Palavras e Sangue” (Editora Bruguera - e tradução de, ninguém mais, ninguém menos, que Mário Quintana). Um livreto de contos. Uns trinta curtos e arrebatadores contos. Vejam como simplesmente se inicia o conto intitulado “O Trágico Cotidiano - O Homem que não Pôde ser Imperador”, valha-me! Que espetáculo! Dizem alguns críticos que ele viveu a crista da onda nos anos 50, e por vezes foi comparado ao seu compatriota renomado Pirandello. Mas como um escritor deste deixa de ser aclamado? Incompreensível... leiam se puderem, vale cada espetada na alma. Este livro já foi vendido, mas há muitos disponíveis pelos sebos do Brasil... 


domingo, 5 de julho de 2020

Sobre Ter os Olhos Aptos para a Beleza


Benditos os que permitem que a arte e o belo os resgatem. A dona Nilva descia pela nossa rua catando latinhas. Parou aqui. Ficou na fachada da loja por um tempo e depois, repleta de encabulamento, perguntou-nos se podia entrar (e como não?). Os olhos dela falavam por si. Dentro de sua exuberante simplicidade varreu cada canto do nosso espaço, se esbaldava, se alimentava: “que lindo, que pintura, e essa música clássica? Que maravilha!” Dizia ela o tempo todo. Filmamos só a despedida, mas ela nos presenteou por uns 15 minutos com sua iluminada presença. Todos nós temos os nossos abismos, as nossas agonias, mas passar por esses momentos sabendo ver o belo, se permitindo vê-lo, é tornar o caminho mais leve e suave. Na entrada de nossa lojinha há uma frase do grande poeta português José Gomes Ferreira: “proibida a entrada a quem não andar espantado de existir”. Dona Nilva, nunca mais pergunte se pode entrar, por favor (no vídeo ela usa a máscara de forma inapropriada, na saída a orientamos sobre a forma correta de se proteger).