sexta-feira, 11 de abril de 2025

Vida, de Abdellatif Lâabi


Vida
é o suficiente acordar
com o sol a minha direita
a lua a minha esquerda
e nisso eu caminho
desde o ventre de minha mãe
até o limiar deste século.

Vida
basta que eu tenha provado esta fruta.
Eu escrevi sobre o que testemunhei.
Eu nunca fiquei calado sobre os horrores.
Fiz tudo o que pude.
E tudo o que levei, entreguei ao amor.

Vida
é nada menos do que um milagre
que ninguém vê.
Um corpo ferido.
Uma alma ferida.
Admita: você tem sido feliz.
Apenas entre nós,
admita.

Abdellatif Lâabi - poeta marroquino

Obra de arte de Eleonora Ciroli, intitulada Pietá, 
exposta no Chiostro di Santa Chiara, em Nápoli. 

 

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Infância, de Tove Ditlevsen


"Não importa onde esteja, você se confrontará com a sua própria infância e isso te fará mal, porque ela é afiada e dura, e essa dor só acaba quando você estiver completamente dilacerado".

Tove Ditlevsen - autora dinamarquesa

Fotografia da fachada de uma livraria do bairro de Trastevere em Roma 

Uniformidade monótona nos destinos dos homens, de Natália Ginzburg


"Há certa uniformidade monótona nos destinos dos homens. Nossa existência se desenvolve segundo leis antigas e imutáveis, segundo uma cadência própria, uniforme e antiga. Os sonhos nunca se realizam, e assim que os vemos em frangalhos compreendemos subitamente que as alegrias maiores de nossa vida estão fora da realidade. Assim que os vemos em pedaços, nos consumimos de saudade pelo tempo em que ferviam em nós. Nossa sorte transcorre nessa alternância de esperanças e nostalgias".

Natália Ginzburg 
escritora italiana em Pequenas Virtudes.

Tela de Giorgio de Chirico, intitulada "The Duo", exposta no MOMA.

 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

A vergonha, por Milan Kundera

 


"A vergonha não tem por fundamento um erro que cometemos, mas a humilhação que sentimos em ser o que somos sem o termos escolhido, e a sensação insuportável de que essa humilhação é evidente para todos".

Milan Kundera
escritor checo (1929-2023) - trecho pinçado de "A Imortalidade"

A fotografia foi tirada em uma, de tantas ruas belíssimas, da cidade de Paraty, no Rio de Janeiro