sábado, 25 de maio de 2024

A avó de Antônia Pozzi


Abraço-te para sentir a tua carne

cheia de paz e íntima da morte -

tão fresca e sombria

junto da minha respiração.

Para lá das palavras: escutamos

pulsações iguais - e apenas um

derradeiro sorvo de vida.

Na margem de negros lagos

volta a iluminar-se

este olho que só tu tornaste azul;

assim encostada ao teu regaço

e fechada no teu ventre

profundo, uno-me

ao teu peso mortal que se desvanece:

de tal modo que já não nos separa a terra -

mas para ambas se torna escura e leve.

Antônia Pozzi (1912-1938) - poeta italiana

Obra de arte de Amadeo Luciano Lorenzato (1900-1995)

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Diospiros de Jorge de Sousa Braga


Há frutos que é preciso

acariciar

com os dedos

com a língua

e só depois

muito depois

se deixam morder.

Jorge de Sousa Braga (1957), poeta português

Arte de Dede Fedrizzi