sexta-feira, 14 de julho de 2023

Como foi curta a noite de Abelardo Linares

 

 
Cheiram a ti os lençóis, meu amor, e ainda
está aberto em cima da mesa o teu livro
e há roupa pelo chão e discos e tabaco.
 
Embora já não estejas aqui, os meu braços ainda te procuram.
E neste fingimento de abraçar-te na almofada
persigo a tua lembrança, a tua cintura, os teus ombros.
 
O teu corpo não foi um sonho e talvez na casa de banho
a minha escova me espere, molhada pela tua boca,
ou húmidas toalhas que secaram o teu cabelo.
 
Cheiram a ti os lençóis. O quarteirão desperta.
Há vozes na rua e luz detrás da persiana.
Deve ir alto o sol. Como foi curta a noite.
 
Abelardo Linares (1952), poeta espanhol
Trípticos Espanhóis 1º
tradução de Joaquim Manuel Magalhães
Relógio d´Água
 1998

Tela do imenso artista italiano Amadeo Mondigliani (1884-1920)